A pele branca rosada que se apresentou a nós, veio a chocar-se
como porcelana na terra queimada.
Você já experimentou jogar num chão de terra uma xícara de
porcelana?
Este objeto infeliz que antes era um, apodera-se na capacidade de
fragmentar-se em vários. A unidade deixa de existir. Enquanto a terra,
arraigada de vida, com o peso do objeto moldado em série, fere-se,
esparrama-se, mas não perde sua natureza.
O problema do ser humano é simplesmente sê-lo a forma dada.
Na infância eu era vida. Hoje não sei se sou a casca ou a ferida.
Lembro-me deste tempo, o alvorecer parecia-me mais límpido e mais
colorido.
A brisa matinal, recordo-me, tocava o rosto num acalento mais
acolhedor.
Hoje, especificamente hoje, está mais frio. Esse arrepio gélido na
coluna anuncia que este Sol veio para ficar!
Outrora, correr sempre fora sinônimo de liberdade. Eu corria. Era
o mais veloz a ponto de ensimesmar-se ao vento.
Hoje corro para fugir... Não deixa de ser liberdade!
A natureza sempre foi uma só, a mesma. E esforço-me a não
perder-me de mim. Muitos já se foram...
A água não possui forma. É a base que forma-a.
Nós tínhamos uma forma. Humana, mas não contagional. Daí,
trouxeram uma fôrma e nos moldaram desajeitados a base de uma cruz. Passaram
por cima de nós.
Sempre violei a natureza ressignificando-a: A nuvem já foi peixe,
a árvore já foi mão, eu já brinquei de Ser deuses.
Mas, pisaram em meus traços, esparramaram violentamente com os pés
encardidos em pus a minha terra, fincaram milhares de cruzes e trouxeram Deus.
No começo é sempre curioso. Toda nova história é curiosa,
instigante. Até habitar o medo. Daí se depara com os limites... Mais medo do
homem, do que do ser invisível. E miticamente instaura-se o Medo!
Complexo e fantasioso esse Deus que não é Natureza, mas é uma
criatura que está sobre tudo e é tudo em tudo por tudo. O curioso é que para se
compreender o tudo, é necessário uma reflexão sobre o todo. E o todo na vida é
muito para seres invisíveis darem conta. No entanto, o invisível é relativo à
visão. O que fazer então com o verme da sensação da iniquidade?
O fato é que ensinaram e ensina-se a separa-se da natureza. Uma
coisa é uma coisa, outra coisa é o que Eles pregam. O medo é para crer no nada
que é tudo.
Aí se dá essa lambança desenfreada em devaneio cristão.
O desesperador é enfastiar o pensamento elucidativo para tentar
sobreviver até hoje, em que o tempo não se conta pelas horas do relógio, mas
sim, a todo momento em que a natureza troca a guarda. O entardecer... então
corro.