segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Escrita de 5 Minutos (Camila Gregório)

CENA JULIANA 1ª Versão

Nascemos do cansaço explícito de um ser ofegante.
Em seu olhar vemos o medo e a suposta proteção de um pano branco.
Acolhedor, coletor.
Pano branco que esconde o cansaço, o sofrimento, a escravidão, os abusos e as perseguições.
Tudo por debaixo dos panos.
Pano branco que esconde os olhares, os gestos, o jeito de andar, de agir e de pensar.
Pano branco que esconde as línguas, as maneiras de se comunicar e de lidar com a natureza.
Natureza morta debaixo de um pano branco.
Que esconde
Sapucaia, Nhamã  Nhaxê
Que não esconde nada.
O ser ofegante, de onde nascemos, continua ali, aliviado por um breve momento,
Mas sempre ofegante em sua luta para sobreviver.

Escrita de 5 Minutos (Camila Gregório)

CENA RENATA - Melância 1ª Versão

Cuspe, cuspir, cuspido
De um ser espatifado, esmagado por mãos, dentes e bocas.
Agora só resta a saliva e a semente.
Cuspidos de sua própria terra.
Saliva e semente agora estão juntas e procuram um lugar onde possam descansar e brotar.
Ali, na terra derramada encontram o seu lugar.
Ali, misturadas ao sangue, cuspes, salivas, línguas dissonantes.
Línguas que podem ser catalogadas, mas não compreendidas em suas essências.

Are, Nhamã Nhaxê.

Escrita de Si Cênica: Tudo é construção por Camila Gregório

Senha (distribui os papéis)
Um corpo jogado sobre um banco.
Uma criança rodopiando.
Atendimento.
- “Tchau, tchau, Deus lhe pague”.
Bombardeio.
Somos bombardeados todos os dias, não somos atingidos por canhões, tampouco pelo fogo, mas pelas pessoas, as instituições, o governos, os jornais.
Bombardeios que não atingem o nosso corpo, mas a nossa alma.
Como se tudo não passasse de um grande terço.
Ave Maria... (fala freneticamente)
O bombardeio toma outras formas e aprisionam as pessoas em ideologias falsas, regras e condutas.
Será que isto é o que se passa na minha alma? Dúvida? Não, não posso ter dúvidas. Apenas a certeza contida no “Deus lhe pague”.
O bombardeio agora é o hit da moda. O “leque leque leque” que está nas ruas, nos celulares, nas rádios, nos carros. Deprimentemente fomos bombardeados.
“Obrigada”. “Deus lhe pague”. “Fica com Deus”. “Obrigada”. “Vai com Deus”.
Dúvida. Acho que as dúvidas sempre são bem vindas. “Este é o hit da moda? Copia pra mim que vou colocar no meu celular”.
Novo velho bombardeio. Índios e jesuítas: choque cultural de ambos os lados. Sem armas de fogo, sem cortar cabeças, mas pegando a cabeça de um por um e jogando em uma grande fogueira. O deus Tupan foi queimado vivo pelos cristãos.
Explosão. Novo Bombardeio. Agora o alvo sou eu, fui atingido. Dúvida. De quem é a verdade?
A verdade simplesmente não existe. Nós podemos construí-la.

Novo bombardeio. Criança rodopiando. Senha. Dobradura. Papel. Avião. Rodopio. Salto!

Escrita de 5 Minutos (Juliana Seabra)

CENA CAMILA – “Corda”

            Agonia amarrada. Vai e volta. Estica, esforça. Rompe. Foge... agoniada foge em pulos e voltas que conduzem entre o ar e o chão. Corre e não alcança lugar algum. A pele branca agora é vermelha, das voltas em círculos e volta para o mesmo lugar. Roda e pula a vermelha pele.
            Os joelhos cansados tentam não se render, se perde em saltos. Não! Continua! Solta a corda. Pula! Não! Corre.
            Corre por favor!

            O andar está exausto e pesado e os olhos arregalados, busca à volta uma solução, um apontamento de vida em qualquer parte. Agonia. Sai daí! Será.............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Escrita de 5 minutos (Juliana Seabra)

CENA RENATA – “Índia”

Um quadro. Pintura a óleo. Luz a compor a cor na carne. Beleza. Agonia no que há de vir. Os gemidos, antecedem o pensamento a supor um tal nascimento. Vira-se. O olhar contradiz a razão no qual fomos condicionados. Estranhamento... Índia? Branca, loura porcelana. Como? Sim!
E ela vem... Geme, agoniza agonia! Lágrimas nos olhos. Beleza doída.

Ensandecer naquela barriga que cai. Espatifa, esparrama-se. Carne viva. Semente por todos os lados. Ali, aquele corpo branco no desespero a ninar e comer aquele outro corpo que se transforma. E, escorre o caldo no sangue, e lambe os dedos. Gruda no cabelo claro, o caldo doce tão amargo na minha boca. A loucura no desespero de semear. Arrasta o corpo no corpo esfacelado, geme em ânsia, cospe semente na terra preta, fértil à espero do alimento à semear, e, junta, aflita, junta-se em forma escultural nas cores inquietantes da bandeira deste país, com os seios vermelhos de sangue e vida. Cospe na terra o que terá a função última de germinar a.........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Escrita de si por Edson Luciano


Michel Foucault
Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir.

                           Texto

A curiosidade. 
O estímulo libertador do livre pensar.
A prática de questionar o que se faz enquanto indivíduo integrante e com deveres e direitos, acordados por palavras de uma constituição, que dá voz a toda uma "tribo", uma sociedade aglomerada de culturas distintas...
O nosso acordo aqui, neste chão tropical, não passa de uma missa em um idioma desconhecido!
Um ritmo absurdo de futilidades sedutoras, rasgam qualquer um dos nossos sentidos físicos,estraçalham qualquer lugar tranquilo do bem ouvir, do bem falar, do bem pensar, do bem refletir...
A consciência coletiva não existe, ou parece não existir, quando o assunto é afeto, identidade, espaço público...e quem dirá direitos e deveres!!!
Como permanecer dentro de mim mesmo, em estado de paz e sensatez?
Como temperar os meus atos e anseios diante aos afetos abalados, diante a uma visão e sensibilidade cada vez mais nítida da sordidez que é comer o pão e gozar a vida? Molhar a vida com o suor do prazer da arte involuntária, que não pede, se impõe e força o "peito"...acontece...
Perceber as movimentações da massa, do povo, perceber a indução ao sedentarismo mental, físico, de caráter, de índole, de negação a própia e "estúpida missa" dos direitos humanos que VIVE somente no papel , lindamente, que me parece, tão somente, uma mera maquiagem a favor dos "controladores do" livre pensar", da livre escolha"! Como isso pode existir? ou pior, existe!
 Perceber que uma chacota ou um ato de enganação, de tapeação é nomeado aqui em "minha terra", Um jeitinho brasileiro de ser! É cultivado como um "dom supremo" do mais sábio e rápido cidadão metropolitano. Me é no mínimo, um assassinato há qualquer tentativa de convivência coletiva.
 A herança está bem mais enraizada do que minha intuição agora suspeita. Eu quase que me descubro totalmente neste lodo, todos os dias. Todos os dias, em que me falta, a força de um pensar forte e optativo, por rever conceitos e anseios possessivos.  Todos os dias, em que me livro dos parâmetros de excelências comportamentais imposto pelo "nicho"intelectual da moda. Nestes momentos me balanço como um cão molhado, pulguento! São, exatamente,nestes dias, que percebo o tamanho do poder que rege todo o complexo que se chama sociedade contemporânea.
 Meu descobrimento é um choque de identidade. É uma troca de pele tal qual, uma cobra se colocando ao habitat "natural", constantemente buscando a própia identidade.
 O descobrimento ou redescobrimento"é" a todo instante,vital, para todo o ser humano que se permite mudar de uma realidade a outra, pelo simples fato de se dar mais ouvido ou melhor, atenção. Se pondo assim, enquanto um corpo que constantemente muda e pede liberdade.
 Mas não falo aqui só do movimento pelo movimento, eu não vejo liberdade de expressão em me converter ao banal apelo e é assim que vejo, insistente do entretenimento manoseador paralítico e sedentário. Não vejo se quer uma realidade nisso!
 A herança de uma posição conivente social, de uma situação confortável de realidade anestesiadora, se colocando como escravo; está no DNA dos colonizados! 
 Me parece que é sempre mais fácil ser o escravo. Não há preocupação com nada, com o alimento, com a administração do próprio trabalho, enfim. A gestão dominante me garante o mais importante, a segurança! Desgraçadamente!
- " Ficastes a trabalhar para mim e lhes garanto o mínimo para a sua sobrevivência!"
 Terei que lidar somente com à alta estíma, com a coragem de executar a tarefa pela tarefa. Anos após anos, este ser nasce e não se descobre em outra realidade a não ser, ter um comportamento "pseudo-humano"e desejar, sem questionar ou pensar sobre um Deus qualquer, ao qual da graças por ainda ter um emprego.
 É fazer valer a seguinte frase:
 - O trabalho dignifica o homem!....para o qual você trabalha!
 A gestão seiscentista e a gestão atual, tem, além de inúmeras semelhanças, a cara de pau de serem sempre a "mesma"minoria dominadora.
 Como se já não bastasse o aldeamento miserável que é o ser humano!
 O desconhecimento de si, e a necessidade de manter ativo um treinamento mental constante, para lidar com a nossa loucura, com uma permanência pacífica com o corpo, sem esbagaça-lo de dentro para fora. Ainda temos que lidar com a força contínua de nossos semelhantes...e falando em semelhantes, somos a imagem e semelhança da curiosidade.